Catedral News nº 51
Ariovaldo Lunardi(*)
No nascimento da nossa Igreja, criada pelo próprio Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor, as primeiras comunidades cristãs, praticavam a partilha fraterna, doando por amor parte daquilo que possuíam, ou muitas vezes colocando em comum tudo aquilo que lhes pertencia (cf. At 2,44). A partir daí diversos tipos de partilha foram realizadas, promovendo a sustentação de obras a favor dos pobres, como o apóstolo Paulo nos ensina na Primeira Carta aos Corintos (16,1-3) e Lucas no Livro dos Atos dos Apóstolos (11,29), acerca das necessidades da própria Igreja para o seu sustento e funcionamento.
Dentre as diversas formas de partilha, neste momento vamos tratar da importância do dízimo, pois esta é uma forma que deve ser estimulada em todas as paróquias e comunidades da nossa Diocese, como meio ordinário de sustentação da evangelização.
Se as grandes empresas produzem equipamentos e grandes máquinas, automóveis e os mais diversos gêneros de produtos eletrônicos, a nossa Igreja, há mais de 2000 anos produz e dissemina pelo mundo o Amor, valendo-se das mais diversas matérias primas, que nos vem sendo transmitidas desde o anúncio feito por Cristo acerca do Reino de Deus, compreendendo: justiça, compaixão, paz, esperança, misericórdia, compreensão, verdade, fé, caridade… porque como Igreja acreditamos que o fermento para promoção da humanidade é o Amor, e só ele é capaz de impedir as guerras, vencer as dificuldades, promover a vida e a família, e o respeito mútuo pelos irmãos, pois somente ele nos desvia dos nossos objetivos para ajudar aquele que está à margem e que sofre porque o mundo lhe roubou a felicidade (cf. Lc 10,30-37).
O interessante em tudo isso é que o Amor somente se retribui com Amor, que brota da generosidade, do carinho e do afeto dos membros da comunidade, que oferecem à Igreja uma parte daquilo que conquistam pela força desse mesmo amor que emana de Deus. Daí nasce o sentido e toda a razão da partilha, permitindo dar de comer, de beber, de vestir, de suprir as necessidades (Mt 25, 35-40) dos irmãos e da Igreja que é a Nossa Casa, o nosso planeta, como nos orienta o Papa Francisco na Carta Encíclica Laudato Si.
O dízimo não é pagamento, pois não se paga pelo Amor que emana do próprio Deus, mas é retribuição, doação e contribuição que se faz à Igreja para que esta possa corresponder às suas necessidades do mundo com a manutenção dos seus templos e suportar suas obrigações dentro da sociedade, retribuindo por aquilo que se consome.
O dízimo é um modo de contribuição sistemática e periódica, visando a participação de todos os fiéis na manutenção da Igreja, sem a fixação de percentuais ou penalidades para aqueles que não participam (cf. CNBB – Dízimo – Uma proposta bíblica). O dízimo deve ser a doação espontânea que nasce da compreensão e da necessidade de oferecer uma parte daquilo que a vida lhe proporciona, doando de forma espontânea e generosa, na certeza de que seu ato é agradável a Deus, constituindo, sem qualquer dúvida, a maneira de possibilitar que a evangelização se realize de fato.
A contribuição dos fiéis dignifica o culto divino, mantem os ministros ordenados, promove a realização das mais diversas obras de apostolado e de caridade, pois no Novo Testamento também encontramos o fundamento para a prática dizimista, quando Jesus envia os Doze em missão afirmando: “o trabalhador tem direito ao sustento (cf. Mt 10,10). O apóstolo Paulo também ensina que o Senhor estabeleceu para os que pregam o Evangelho que vivam do Evangelho (cf. 1Cor 9,14), além de o Livro dos Atos dos Apóstolos nos dizer que a experiência de partilhar os bens para a manutenção da Igreja e dos pobres é muito forte e expressiva (cf. 2,42-47).
A CNBB ainda de forma bastante esclarecedora, afirma que com o Novo Testamento o dízimo fixado em dez por cento deixou de existir. “Mesmo que as normas do Antigo Testamento obrigavam por direito divino, não obrigam mais, porque todas as leis relativas às cerimônias, aos juízos e as relativas aos dízimos formalmente considerados foram totalmente abolidas, como consta na carta de São Paulo aos Hebreus (cf. 7,12.18 e 8,6-7) e na carta aos Gálatas (cf. 3,25 e 4,5)”.
Portanto, o dízimo deve ser fruto da consciência de cada fiel, doando e contribuindo com liberdade, amor e gratidão pela Igreja que o acolhe e que reza por si e por todos, celebrando a missa, realizando o memorial do sacrifício e da paixão de Jesus Cristo, permitindo, a cada dia participar da ceia do Senhor, alimentando-se do seu sangue e do seu corpo, para que todos os irmãos possam estar e viver juntos, em harmonia, em torno do altar, porque Deus não fez o homem ou a mulher para viver na solidão (cf. Gn 2,18), mas nos fez para viver em comunidade, e oferecer o dízimo é agradecer a Deus!
O Dízimo é a experiência de fé que torna concreto e possível o sonho da fraternidade. É da consciência e da prática do dizimista que dependem, em grande parte, o dinamismo e a vida da comunidade.
O dízimo é gratidão, sendo um meio concreto de agradecer a Deus por tudo o que Ele nos deu e nos dá, pois, essa gratidão não se manifesta somente através de palavras e orações, mas com gestos concretos.
Ele é também um ato de fé, porquanto só deve partilhar o dízimo aquele que crê em Jesus. O dízimo é a expressão concreta da fé, porque não se entrega o dízimo como pagamento, taxa, ou imposto sem compromisso com a comunidade. Quem o partilha como expressão de sua fé, mostra o sentido de pertença à Igreja, crê que não vai lhe fazer falta, pois confia em Deus.
O Papa Francisco, tratando sobre o dízimo, nos instrui que “no campo da economia é necessário desenvolver um sistema que, tendo em consideração que os meios materiais estão destinados exclusivamente à missão espiritual da Igreja, garanta a cada realidade eclesial o que lhe é necessário e a liberdade para a sua atividade pastoral”.
Por tudo isso, não podemos dizer que a Igreja é minha ou é sua, é daquele ou do outro irmão, do sacerdote ou do leigo, porque a Igreja é Nossa, assim como Nossa é a Casa em que vivemos e partilhamos, uma Casa que é vivificada pelo amor do Espírito Santo e que como Casa, nos remete imediatamente lembrar da nossa Mãe, Maria, que com muito amor trouxe ao mundo uma criança que mudaria o mundo, o Filho de Deus, fruto do seu “sim” absoluto, permitindo ao Pai realizar a sua vontade (cf. Lc 1,38).
Chegou agora o momento de darmos o nosso SIM incondicional, contribuindo e doando com generosidade parte daquilo que recebemos de Deus. É nossa oportunidade de dizer SIM e agradecer, pelas bênçãos e graças que todos os dias são derramadas sobre todos nós.
(*) Ariovaldo Lunardi é teólogo e advogado da Mitra Diocesana de Osasco, Ministro da Catedral de Santo Antonio e membro de diversas Pastorais.
Evangelho: 27° Domingo do Tempo Comum
Santo: São Bruno – presbítero