Um paralelo teológico entre o Natal e a construção da Nova Catedral
por Ariovaldo Lunardi (*)
O nascimento do Menino Jesus é o maior sinal de que Deus escolheu estar perto de nós. Ele veio de forma simples, para mostrar que a verdadeira grandeza está no amor, não no brilho da riqueza.
Ao contemplar a construção da nova Catedral, percebemos algo semelhante: Deus novamente “nasce” no meio do seu povo. Cada tijolo, gesto de doação e oração revela uma fé que se renova e se fortalece. Assim como o Natal celebra a presença de Deus entre nós, a nova Igreja testemunha que Ele continua caminhando conosco — em um espaço belo e acolhedor, erguido sobretudo pela união da comunidade.
O presépio recorda que o essencial está no amor. Da mesma forma, a nova Catedral nasce da simplicidade e da fé do povo: não são apenas paredes, mas uma obra construída por corações que amam, rezam e servem. Como o Menino Jesus veio para todos, também este templo é fruto de todos — leigos e clérigos, juntos como Corpo Místico de Cristo.
A construção avança com emoção: desde a mudança para a nave provisória e a despedida do antigo templo, até os alicerces preparados para receber uma das maiores catedrais do Brasil. Parece um sonho, e é um sonho movido por uma pequena, mas imensa palavra: fé.
Vê-se a alegria no sorriso das pessoas, nas mãos erguidas em oração, nas mãos que ajudam. Há um renascimento espiritual acontecendo. A história está sendo escrita diante de nós — é como viver um Natal cotidiano. A nova Igreja aproxima famílias, reacende a fé e reúne corações que antes caminhavam distantes.
A verdadeira Igreja é formada por pessoas. Há 95 anos, a comunidade da Catedral de Santo Antônio vive dessa união que é obra do Espírito Santo. E agora, mais que erguer paredes, ela reconstrói lares espirituais. A cada etapa, o Menino Jesus parece nascer de novo dentro de cada fiel.
A construção de um templo é sempre parceria entre a fé do povo e a providência de Deus. E a graça se revela nas pequenas atitudes: na doação humilde, na oração silenciosa, na dedicação de cada voluntário. É o divino habitando gestos humanos. Como José e Maria confiaram sem compreender tudo, também nós confiamos que esta obra é vontade de Deus.
A nova Catedral será um testemunho vivo de que, quando fazemos nossa parte com fé, Deus completa com a Sua graça. Em tempos difíceis, ela se ergue como sinal de esperança: se podemos reconstruir a casa de Deus, também podemos reconstruir nossa vida interior. Cada tijolo é um convite para nos levantarmos e renascermos em Cristo, que venceu a morte com a vida.
O Deus que nasceu em Belém deseja nascer novamente no coração de quem perdeu a fé. O Natal transforma porque, como diz São Paulo, “já não sou eu quem vive, mas Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Viver em Cristo é encontrar a verdadeira vida.
Entre tantas incertezas, Deus nos concede a graça de começar de novo. Assim como o Menino nasceu na escuridão da noite, esta obra nasce em meio aos desafios do nosso tempo. Cada pedra é uma luz que brilha, sinal de que Deus segue conduzindo o Seu povo com ternura.
A obra despertou um profundo sentimento de pertencimento. A comunidade entende que a Igreja não é do pároco, mas de todos. O templo físico ergue também o templo interior. Onde havia dúvidas, hoje florescem a fé e a esperança. Pessoas, famílias e empresas se unem, e essa união move a obra.
A última missa no antigo templo foi comovente: bancos carregados, orações partilhadas, desconhecidos tornando-se irmãos. Pequenas doações, grandes gestos, votos silenciosos — e também grandes contribuições — tudo se entrelaça no verdadeiro espírito do Natal: cada um oferece o que pode, e juntos constroem algo que nenhum poderia realizar sozinho.
A nova Catedral está sendo erguida com concreto, sim, mas também com comunhão, fé e fraternidade. É a Igreja viva, nascendo do coração do povo.
O templo que surge marca um novo tempo espiritual. Ser Igreja é caminhar juntos, participar e cuidar. A construção é visível, mas o que ela desperta é invisível — e é isso que toca o coração de Deus.
O presépio foi o primeiro templo de Jesus: pobre, simples, mas cheio de amor. A nova Catedral é continuidade dessa história. Ela nasce com o que o povo oferece: oração, tempo, dons e amor. E o amor é o cimento que une todos como irmãos.
Quando as portas se abrirem, cada fiel poderá dizer com o coração cheio:
“Eu fiz parte desse presépio moderno, onde Cristo continua a nascer todos os dias.”
Um Natal Especial.
(*) Ariovaldo Lunardi é teólogo e autor do livro Santo Antônio de Pádua – vida, orações e milagres
